quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Por que as palestras sobre "empreendedorismo" são tão repetitivas?

Ilustração: Quatrho Coaching e Consultoria
"É preciso ter foco."
"É preciso inovar sempre."
"É preciso motivação." 

- Eles estão sempre
repetindo isto.


Quando um desses "especialistas" que é preciso motivação, além dele dizer algo que é frequentemente dito em palestras, entrevistas em programas de televisão, debates, etc., faz parecer que não observa uma coisa: a pessoa que comparece a uma palestra ou um debate, ou está assistindo a uma reportagem ou entrevista sobre gestão de negócios faz isto porque já está motivada. Portanto, o interessado já sabe que a motivação é necessária. O que o interessado precisa saber é como ele deve fazer para administrar corretamente sua motivação.
Outra coisa muito repetida nesses eventos: a palavra "foco". Ela se origina da ótica (ou "óptica"), ciência em que "foco" é o nome dado a um ponto para o qual convergem vários raios de luz. Portanto, em negócios, o foco é o tema que deve ser considerado como principal centro das atenções quando se torna necessário buscar soluções e objetivos. Porém, pelo fato de comparecerem a essas palestras, os interessados já demonstram que sabem que esse "foco" é necessário. O que eles querem saber, neste caso, é como estabelecer esse "foco". Aí, a coisa se complica porque, numa plateia com dezenas de pessoas, com tantas pessoas assistindo a um programa ou um debate através da televisão, obviamente cada caso é peculiar. O "foco" a ser exemplificado não pode ser considerado como um exemplo para todos.
Felizmente há exceções. Posso citar uma como exemplo: Getúlio Apolinário Ferreira. 
Já fui aluno de Getúlio em alguns desses cursos de curta duração. Com ele aprende-se qual é o objetivo, o que equivale a dizer que sabe-se que é importante ter foco mas é mais importante aprender qual é o foco ou como identificá-lo para, depois, focá-lo. Profissionais como ele não se limitam a dizer que é preciso ter motivação, ensinam como obter a motivação e, como ninguém consegue coisa alguma sozinho, como motivar outras pessoas para atrair parcerias, formar equipes e tornar seus membros interessados nesse mesmo foco.
Considero também um erro o uso da palavra "empreendedorismo". Aquele que empreende é um empreendedor. Se prestarmos atenção às regras gramaticais, veremos que quem se dedica ao automobilismo é automobilista,  o praticante do empirismo é um empirista. Portanto, se a palavra empreendedorismo estiver correta, o praticante tem que ser um empreendorista. No entanto, a palavra "empreendedorista" nem existe: a palavra correta é empreendedor. Vocês já notaram que, embora não seja impossível, é até muito difícil encontrar "empreendedorismo" nos dicionários? Isto comprova a inconveniência do uso de tal palavra. Em seu lugar, pode-se (e deve-se) usar palavras e expressões a substituem muito bem e, o que é ainda melhor: são corretas. Dizem que "empreendedorismo" significa a capacidade de resolver um problema ou uma situação complicada. Na verdade os verdadeiros nomes disto são "capacitação", "capacidade de empreender", "gestão", "administração".
Estão usando, também, no Brasil, muitos termos em inglês sem necessidade alguma, já que existem palavras referentes a eles em português e são muito bem conhecidas por todos nós. Falam muito, por exemplo, em "coaching", quando é possível dizer simplesmente "treinador" ou "líder". Neste caso, um treinador com funções específicas para tornar uma pessoa ou uma equipe mais eficazes, mas ainda assim é um treinador ou um líder dessa equipe, que não somente ensina mas principalmente organiza o aprendizado segundo as necessidades específicas da equipe e de cada pessoa que participa do grupo. Na verdade, nem mesmo em inglês usam o termo corretamente: "Coaching", na tradução correta, é "treinamento". "Treinador", em inglês, é "coach".
Minhas recomendações são estas: em outro país podem usar as palavras que quiserem, mas aqui nós estamos no Brasil e não há necessidade de usá-las para falar para brasileiros. Usem suas correspondentes em português. Aprendam inglês e outros idiomas, porque isto se faz cada vez mais necessário, mas quando estiverem falando para brasileiros, usem a língua portuguesa sem necessidade de recorrer a "estrangeirismos" quando houver palavras e expressões no nosso próprio idioma oficial. Ao mesmo tempo, é importante que os palestrantes que realmente querem comprovar que é necessária a constante inovação demonstrem que inovam também constantemente em suas palestras. 

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